domingo, 30 de novembro de 2014

Garoto Propaganda da Galley

Ainda na temporada Brasileira, fui escolhido por livre espontânea pressão como o garoto propaganda da cozinha, isso mesmo, passei por um tempo como um dos representante da cozinha nas despedidas no teatro ou nos portões de desembarque dos hospedes.
 Eram escolhidos em cada departamento algumas pessoas para representar nas apresentações e nas despedidas do pessoal que havia estado na nave, assim como no jantar da meia noite da postagem anterior, eram escalados varias pessoas do meu departamento, mas o único a ser o fixo, o bunito aqui. OHHH SORTE!!!!! COMO DIZ UMA AMIGA MINHA.
 Essa historia começou no porto de Santos quando na noite anterior meu nome foi colocado no mural para estar no portão de desembarque, ainda não tinha entendido, mas todos da minha estação estavam rindo de minha cara, por sinal até o cappo ria muito e me ensinava com cara de deboche como teria que fazer, tipo a mãozinha de miss ao ganhar o concurso de beleza. Como  levava tudo na esportiva nem ligava. No dia como não sabia direito onde deveria ir fui pedir "o a secretaria"para me ajudar, descemos e assim que cheguei já estavam todos na posição e começou o momento da carisma, era um sorriso pra cá, um adeuzinho pra lá e nisso fiquei 2 horas fazendo esses movimentos repetitivos. Tirava fotos, ouvia os obrigados pelo serviço e dava muita risada, no fim dessa loucura estava com o maxilar dolorido de tanto sorrir. Isso se repetia de 15 em 15 dias no fim dos cruzeiros e ao sair da temporada Brasileira comecei a fazer também a sessão teatro.
                                                                               
Essa parte era fácil pois durava 5 min e tinha outras pessoas do meu departamento.Eram convocados cinco cook's e um sous chef e algumas vezes um 1º cook, essa apresentação era separada por línguas dos hospedes, onde geralmente eu aparecia nas  espanhol, português e italiano. Era uma reunião para apresentar o ultimo destino e vender os pacotes de turismo e também agradecer pela hospedagem e no final da apresentação colocava os crew para entrar e os primeiros a entrar, imaginem ... os cook's, não para me gabar, mas eram os mais ovacionados, todos em fila indiana, olhando para a plateia e andando para o centro do palco, lá dava o tchauzinho e saia pelo outro lado, morria de vergonha. Toma semana era mesma coisa, mudava a galera e eu ficava, não sabia o porque mais continuava. Depois de um tempo já estava acostumado e quando foi retirado da programação e senti falta dessa fase garoto propaganda.

Somente com o chio chio no portão de desembarque lembro do primeiro Veneza, fim da primavera europeia,quando fui encaminhado para fazer essa representação, acostumado a fazer no calor do Brasil, cai num dia frio do capeta, mas como castigo pra corno é pouco fui. No inicio com o sangue quente ainda balançava a mãozinha com vontade e o sorriso aparecia, mas meia hora depois estava batendo os dentes, uma hora dor nos braços e quase no fim câimbra nos pés. Foi perguntado aos seguranças quantos faltavam descer e foi informado que tinham 1500 a bordo. Não aguentava mais, tudo doía de frio e não chegava o fim, Resumindo fiquei 3 horas nesse chio chio e quando voltei a galley foi xingando a todos e procurando um lugar quente para me esquentar. Depois de um tempo fui retirado da escala porque o cardápio mudou e tive que ficar na galley para prepar, pois era uma prepacação grande e o cappo não permitio mais essas saídas. Foi doloroso essa separação pois era o momento de rir, alimentar o ego e ganhar gorjetas, chorava para o secretário me colocar , mas não adiantava, me senti como um cantor famoso depois de sua decaída dos palcos. kkkkkkkk

Em conversa com um sous chef, ele me disse que era selecionado para isso pq eu tenho o porte de cozinheiro do imaginário dos hospedes , forte, gordo, branco e com a simpatia dos brasileiros com o sorriso. Veja só!!!! ai ai viu!!!!

sábado, 29 de novembro de 2014

Temporada Brasileira



 Bem, essa temporada foi marcada por muito trabalho, (falando assim até parece que tivemos momentos de relax), por descobrimentos  e alegrias. Os colegas mais ”experientes” sempre falavam que  a brata maior era no Brasil e com a chegada na Europa ficaríamos mais relax, pois os cidadãos europeus são “civilizados e pontuais”, o que animava a galera querer chegar logo nesse nível de “good life”.
No Brasil tivemos os pontos negativos muito intensos, pois os hospedes brasileiros comiam muito, repetiam os pratos e não respeitavam os horários de fechamento dos restaurantes isso deixando os assistente em brata e consequentemente  os cozinheiros também essa vibe, resumindo, falta de organização que deixavam todos alem do horário, o que irritava a todos.
No carnaval foi um dos exemplos que nos envergonhou bastante. Com a venda de muitos pacotes com all incluse (inclusão de bebida alcoólica) e com over night no carnaval de Salvador, o número de hospedes mais jovens foi maciço e isso acarretou em quebra de espreguiçadeiras e cadeiras  da área da piscina, desrespeito a tripulação (como pegaram um colega e jogaram dentro  da piscina) e chegar  para jantar pensando que estavam no bar, na beira da piscina, somente de sunga ou extremamente bêbado solicitando os pratos demorando mais que deviam por estar bebendo parecendo que  o mundo iria acabar naquele momento. Sei que as explosões de alegria pelo período são intensos, mas desrespeitar quem estava trabalhando é fogo.
Fora essa falta de elegância, a experiência pra mim foi bem mais aproveitada do que na Europa, não pelas descobertas de um mundo novo, mas pelo calor humano mais intenso, do sorriso gostoso que recebíamos e pela energia de quem realmente tem um coração dentro de si.



Essa temporada pra mim também foi marcada pelas horas extras com o “jantar da meia noite, as delícias do chef”, um oferecimento do chef  nas noites de Gala de despedida. Após meu expediente  normal de 13 h no dia, um dos sous chef sempre me chamava para essa hora extra no Buffet, não sei se me achava com cara de “bestalhado” ou se era o sorriso e a tranquilidade que fazia o nobre cidadão me escolher sempre. Todos os convocados para essa noite faziam o revezamento, mas o único fixo era o bunitoooo aqui.  No inicio não gostava, perdia minhas horas de descanso, perdia as festas no crew bar pela metade e única coisa que ganhava era o direito de chegar uma hora mais tarde na manhã seguinte (boa porra!!!), mas depois fui me acostumando, chegava  na cabine correndo,tomava banho, colocava uma dólmã limpa e a calça branca de gala, perfume e corria para o 9º andar, Lido. Chegando lá ajudava o fim da arrumação e preparava o sorriso, ali esquecia as dores e dos estresses do dia, ouvia os agradecimentos dos hospedes pelo trabalho e ajudava a escolha das melhores sobremesas do dia. Era uma linha só de doces, tortas e quitutes, sempre com bolos gigantes decorados com o tema do cruzeiro, isso durava somente uma hora de serviço e ao final tinha que separar e descer para a refrigeração dos selecionados. Sofrimento.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Argentina, primeiro país das minhas descobertas!


           Buenos Aires na Argentina definitivamente será uma das minhas favoritas cidades perdendo somente para minha amada Mykomos - Grécia. Cidade estilo europeia cheia de casarões e prédios antigos e com um friozinho gostoso que nos fez amar essa cidade. A cada passeio que fazia,  descobria um ambiente novo e lugares pitorescos e sem falar das noitadas que passávamos nessa terra.  



          A primeira vez que sai do navio para passear fui a uma rua chamada de "Calle Florida" , uma enorme avenida no centro da cidade que oferece de tudo, desde loja de perfumes, o que amo frequentar, à lojas de couro, que são bem característicos da cidade pelo frio que predomina. Como não tinha Obamas para gastar nesse cruzeiro, fui somente conhecer a city e o melhor de tudo a pé.





        O passeio rendeu novas amizades e vontade de querer descobrir mais a cidade.  Já a noite com dinheiro devidamente cambiado fui da um role na conhecida Palermo, bairro boêmio e cheio de barzinhos onde por motivo maior de stress com taxista  voltei para o navio e fui dormir.

Em falar nisso, um dos grandes problemas da cidade são os taxistas, em sua maioria acham que estamos nadando em dinheiro. Nessa noite estávamos em 8 pessoas e pegamos 2 taxis, as pessoas que sabiam chegar ao lugar que desejavamos estava no taxi da frente, a todo momento o taxi colado com o nosso e o "hijo da puta" fez questão  de se perder deixando os quarto estressados, tempo pra gente vale ouro e perde-lo é totalmente desagradável, e essa criatura  conseguiu que perdessemos o controle e pedir pra parar. Momento que temos de alivia o cansaço do dia sendo interrompido por um cidadão querendo uns pesos a mais, seria muito mas vantajoso pedir esse trocado de forma honesta ou nos entregar um cartão para uma nova corrida, já que tínhamos que "obrigatoriamente" que voltar para casa de lata. Duas pessoas ficaram na baladinha e eu e uma amiga voltou e fomos dormir. São sinais que nos livra de situações desagradáveis. 

Em uma das outras vezes, chegamos a ir para Palermo e ai comemos muito bem e pagando muito pouco  num restaurante com Wi-fi grátis e fomos para uma boate GLBT famosa na cidade, mas soava o alarme: "only for crew, only for crew", boate fechada quase que exclusiva para os tribulantes da nave. A noite foi regada a Vodka e energético, fechamos a noite às 5h da manhã chegando as 6 e muitos correndo para tomar um banho e começar a trabalhar, lembro que gastei em reais o valor de 50 dilmais. Muito bom!!!!
 




Na minha última ida  nessa cidade rodamos de taxis, passamos na Casa Rosada e descemos no Caminito, bairro paupérrimo tipo Pelourinho, destacados por suas cores e alegria das pessoas dançando Tango nos barzinhos e chamando para visitar as lojas de lembrancinhas.tirei foto com Maradona e o Papa Francisco e chegamos até no famoso estádio da La bombonera, o estadio do Boca Juniors. Nossa! a cidade que nos permitiu uma válvula de escape e agradecíamos pelas diversões que tivemos nela. 






 

Lá vem o pato. Pata aqui, pata acolá

Uma das minhas maiores dificuldades de exercitação do meu buda interior foi o pato, uma das preparações de maior complexidade em relação ao tempo de preparo.

 Após criar uma confiança com o "cappo carrasco"  fui direcionado para a preparação do main course, o prato principal e logo de cara fui prepar o danado do pato no inicio do cruzeiro. Começava na noite anterior indo na butcher, setor dos açougues em especifico no "fish preparation", preparação dos frutos do mar e aves do navio, lá solicitava os box de patos destinados ao cozimento,  normalmente era liberado 200 destes animais. Depois de encher o troller com os box's subia o elevador e levava direto a minha praça, lá colocava em "placas", assadeiras, de dez em dez em ordem e utilizava dois fornos combinados em temperatura média de 150 a 170 ºC com tempo de 55 min, esse processo variava de acordo com o tamanho do animal e tudo feito após o fim do serviço do jantar e da limpeza da estação por volta das 11:30 da noite. Terminado esse processo o forno desligava sozinho no tempo determinado e íamos para nosso descanso e os patos ficavam no forno esfriando em temperatura ambiente até a manhã seguinte. Esse processo todo fazia com um Filipino e um Indiano que compadecia do trabalho que tinha, pois o cappo depois da primeira vez que mostrou o processo nunca mais deu as caras para olhar o executado.

Na manhã seguinte o meu Bom dia já era dado pelos colegas como forma de zoação. A principio olhava o animal e ficava perdido, mas me ensinaram os cortes e a melhor forma de segurar o bicho, técnicas que me deixou craque no corte,  retirava todo o excesso do líquido gorduroso que ficava nas placas(em grande quantidade)  e começava a trabalhar, esse processo durava  a manhã toda, cerca de 4 horas destinadas aos danados. Era cortado em quatro partes de forma simétricas e depois removia 1/4 do nosso aparente. Nesse meio termo o cappo fazia o fundo com as ossadas e mais no inicio da noite o molho de laranja e adicionado ao pato finalizado a cocção e direcionado para a linha de montagem.

Tudo se tornou mais prático depois de um tempo apesar de odiar essa preparação e depois da mudança de praça tudo ficou pior. Já numa praça nova, Roast station, com tudo novo, continuei fazendo o mesmo processo porem com a ajuda de outros colegas, o que me deixou mas tranquilo e menos sobrecarregado, mas como nada a bordo são flores tivemos troca de cappo de novo na estação, chegava para assumir o cargo um Filipino que deu muita dor de cabeça. Era do tipo de profissional "baba ovo" ou pior, inseguro no que fazia, tudo ia com uma amostra para uma aprovação do chef, não é que isso seja desnecessário, mas o cara fazia isso em cada etapa de cocção.

 No caso dos patos ele fazia um processo bem diferente, colocava em baixa temperatura e tempo continuo para o cozimento a noite toda, mas isso não era legal, o bicho não ficava no ponto certo para o corte e por muitas vezes ficava cru e o pior quente o que dificultava o corte e demorava muito mais tempo mesmo tendo 4 pessoas fazendo essa produção e o lembro que da primeira vez começamos 8h da manhã e só terminamos as 16h  porque o retardado colocou para o corte o bicho cru e ainda inventou de cortar cada pedaço de peito em 3 e coxa em 2 deixando uma estética duvidosa perante a apresentação. Falei que esse processo era errado de acordo como eu tinha aprendido anteriormente com o "cappo carrasco" e ouvia que eu era um simples terceiro cozinheiro e tinha que realizar o que ele mandava. A cada facada que dava só pensava no pescoço daquele PH filho da puta, mas graças a Deus o colega conseguiu convence-lo que estava errado e o fdp me escutou, mas nada estava vencido, tinha que tirar da cabeça dele a história de cortar em partes e de deixar de enrolar a placa  com plastico filme, isso mesmo plástico filme, isso só deixava o bicho mais duro que ele já era e totalmente ressecado. Resumindo um retardado.
 Deixamos de começar às 8 e iniciávamos às 6;45, acordava às 6 e isso me incomodava mas terminávamos mais cedo e conseguia descer em Bari para dá um rolé. Estava mas tranquilo quanto a isso mas a criatura inventava arte toda semana, só pra matar de raiva, porem Deus é maravilhoso e o contrato do cidadão terminou e minha felicidade reinou. Os dias de pato se tornaram mas práticos e já com novo cappo consegui  visitar  Santorini, uma cidade que até então não tinha visitado, lógico que começava mais cedo a produção, porém feliz! Uma produção de 4 horas passou para 8h e depois para 2:30, pense na brata resumida quando estamos feliz com o que fazemos.
 O pato tinha como guarnição purê de batata gratinada, repolho roxo refogado no molho de maça e bastonetes de cenoura, molho de laranja e decoração com laranja caramelada. 




terça-feira, 18 de novembro de 2014

Volteiiiiii e com vontade de quero mais!!!!!

Genteeeee, depois de 9 meses confinado no navio, voltei pra casa. A sensação é de liberdade ao mesmo tempo de desespero, liberto das correntes do trabalho e desespero por não saber o que poderei enfrentar nesse regresso.
Fiquei em divida com o blog por muito tempo, pois a vida à bordo não é fácil, muito trabalho, treinamentos semanas, lugares para descer e visitar e muito cansaço não nos permitem dedicar a escrita contando as aventuras.

Resumindo esse contrato posso dizer que amo o que faço, arte na cozinha, odeio amar essa vida abordo e vive e sofri tudo que sempre sonhei para minha vida.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Entre Cebolas e alhos consegui meu espaço

 O trabalho para um 3rd cook numa praça na cozinha é bem reduzido. Descascar alho, cebola, cenoura e entre outros vegetais foi por muitos dias minha função na praça dos molhos, até ai tranquilidade e ate me dava sono de tamanha movimentação que fazia para descascar, mas minha grande dificuldade era o inglês, como era o pequeno nessa história era colocado pra pegar as panelas, chinoá e outros equipamentos para a cocção dos molhos, mas como tudo era falado em inglês o que parecia fácil se tornou  uma dor de cabeça momentâneo, tudo que o que o cappo queria ele fazia mimicas, ali começava os meus medos , porque ele era bem estouradinho e isso poderia ser meu fim, mas parecia que Deus iluminou a cabeça dele e o maluco não estourou comigo, mas encontramos no italiano uma forma de comunicação mais fácil e assim consegui trabalhar uma santa paz.

Comecei a criar confiança no cappo depois que percebi que ele gostava de mandar e ser obedecido, isso seria obvio, mas antes dele mandar  fazer algo aquilo previamente já estaria sido executado, como ele tinha uma preparação básica todos os dias de mirepoux, sal e pimenta do reino em grande quantidade e ossos para preparar os molhos e outras coisas  eu providenciava antes dele chegar e quando chegava ali já estava o que precisava nas mãos.Deixava de calças curtas e assim começou a me olhar de uma outra forma, comecei a mostrar que um brasileiro poderia utilizar uma coisa que muitos ali dentro não usavam, o cérebro.

Outro fato foi o bom humor, nunca fiz cerimônia para sorrir e ate quando ouvia piadinhas de brasileiro de estremo mal gosto, não fechava a cara para ele e os outros colegas e quando o executivo reclamava com ele por ter feito algo de errado, sempre ouvia a versão e concordava com ele, mesmo sabendo que estava errado e colocava-o pra cima fazendo sorrir e conseguia.

Entrada com lagosta para o comandante
Na linha de montagem de pratos  no jantar eu fui colocado na ultima posição, pegava pratos  super quentes  e colocava a primeira parte da guarnição e tinha que ser bem rápido porque a quantidade de pratos para ser liberados eram enormes, cerca de 1000 por sitting na minha linha. Era bem sofrido, prato quente, o colega do lado puxando o prato inacabado e o cappo gritando meu nome para ser mais rápido, mas com o passar do tempo foi criando agilidade  e melhorando na rapidez. No meio do segundo mês como a confiança estava tão boa que era só em olhar para a criatura eu já sabia o que ele queria dizer, tanto que me tirava da linha de montagem no meio da brata para ajuda-lo no rango do COMANDANTE. Ele no meio da cozinha gritava: - Julian ( isso mesmo, Italiano reduz os nomes das pessoas) Julian  vieni qua!!!! ai olhava pra ele e dizia que não podia sair da linha e o cara de pau perguntava quem era que estava mandando. Todos já me olhavam de uma outra maneira, uns com olhar maldoso e outros com admiração, pois fui um maluco que conseguiu conquistar o outro. fiz entradas, pastas, pratos principais e até lanchinhos para o comandante junto com ele. Expêriencia extra para a vida a bordo na cozinha.
Eu nas preparações para o jantar do comandante

Foi a partir dessa confiança que comecei a fazer o main course, o prato principal da estação e era sozinho, uma responsabilidade grande para um 3rd cook. Preparava cordeiro, pato, galinha d'angola, porco e entre outras preparações diariamente e isso ouvindo que estava lento, que deveria ser mais rápido e somente sorria e ironicamente pedia ajuda, mas isso foi bem temporário porque aprendi os macetes dados por ele mesmo e conseguia ser bem mais rápido.





Primeiro momento dentro da main galley



Chegamos os três juntos na cozinha, eu nem sabia dá o nó do scarf,  lenço que se coloca no pescoço para evitar o excesso de suor na dólmã. Logo de frente encontramos para nos recepcionar o Chef executivo e o diretor da cozinha, simpáticos e atenciosos, antes de embarcar tinha lido num blog um depoimento que falava que o chef já no primeiro momento foi muito grosso  e bastante ignorante, assim padronizando o italiano, mas graças a Deus esses chef's foram bem tranquilos. Ficaram olhando pra gente e nos encaminharam para o escritório do chef, antes disso o chefão deu o nó no scarf do meu pescoço e assim sentiu que eu estava assustado com tudo.

 No escritório nos forneceram o manual de higienização e sanitização que deveria ser seguido e os termômetros companheiros  de todos os dias e todos os momentos perdendo somente para o nametag. Estávamos em três e chegou na sala somente dois cappos, um dos novatos foi com o capo do garde manger, outro para pantry e eu fui com o capo salsa (dos molhos),não entendi muito porque dessa escolha, mas fomos para os postos destinados para cada um, seria mas racional um outro direcionamento pois como não tinha experiencia me colocaram numa estação de super responsabilidade  e os outros dois em estações mais fácies de executar o trabalho, sempre me perguntava se isso era um teste se aguentaria tipo BOPE, e depois que descobri que meu capo era o cão ai sim vi que era um teste de resistência,  como exemplo do carisma desse italiano, o ultimo 3rd cook da estação que teria ido embora pq tinha brigado feio com ele  e ate quebrou o celular do dele em mil na cozinha. Será que o Chef olhou para minha cara de assustado e o corpinho gordinho da safra do dia como frágil e não iria aguenta o rojão do italiano? Se foi isso mostrei que ele tava totalmente errado. 

Em resumo : fiquei 9 meses a bordo, sem nenhum warning elogiado por todos e amadureci pra caramba. Um dos meninos foi desembarcado por uso de bebida alcoólica em doses abusivas sem conseguir trabalhar no dia seguinte e o outro desembarcou no mesmo dia que eu, porem com vários warning, porem ele jura que foi aproveitado cada um deles.



Entrega de documentos no Navio

No mesmo dia do embarque fomos encaminhados para o Training room, sala de treinamento, para a entrega de documentos e conferência de certificados e exames exigidos pela Cia para o embarque.  Uma pessoa responsável  por crew nos encaminhou a essa sala e assim começou a conferencia dessa documentação, ate ai tudo tranquilo, já que a agência tinha dado as orientações de não esquecer nenhum documento para o embarque.

O grande drama foi a entrega dos exames médicos, a enfermeira responsável pelo recolhimento não foi das melhores recepcionistas de "welcome on board", brasileira daquelas de encher o saco, tudo questionava quanto aos exames, olhava ponto por ponto, data de validade, assinatura de medico no lugar errado ( isso mesmo, reclamou por essa besteira), levou muito aflição e  a todo momento avisava se estivesse "algo de errado", estaria desembarcando aos irregulares, sei que é método de segurança para eventuais problemas, mas a forma de abordagem não era adequada já que os responsáveis pelos exames não era exatamente agente.Graças a Deus não encontrou nada de errado nos meus exames. também pudera o drama que passei se estivesse algo de errado mataria o povo do laboratório e da agência.

Dia do embarque

No dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, a mãe dos mares, fui embarcar nessa aventura louca. Na noite anterior já nos preparativos de embarque estava com muito frio na barriga e muito medo, pois ainda tinha a incerteza do que estava fazendo. Eram muitas mudanças de uma única vez  e fazê-las de qualquer forma poderia acarretar um frustamento imenso e sem falar na grande perda dos investimentos colocados nessa nova vida.

 Na hora marcada o taxi chegou à minha casa e assim começou o choro das pessoas queridas. Estavam aqui meu pai e minha mãe, Aline e seu namorado e Selma, amigos que vieram transmitir o carinho  e o apoio para essa jornada. Entrei no taxi e assim dei tchau a vida em terra e pedi as proteções e a benção aos meus pais e a Deus.

Cheguei ao aeroporto com 3 h de antecedência assim como a agencia indicou, bem desnecessário, mas segui as orientações, nada poderia dá errado nos últimos minutos. Fiquei no aguardo e no momento exato embarquei no avião  e fui direto para São Paulo.

Já no aeroporto de Guarulhos, peguei minha mala e fui à procura do agente da Costa, processo rápido  e surpreendeu minhas expectativas, jurava que seria bem mais difícil. No aguardo estava outro cozinheiro e ficamos ali esperando outra pessoa que não chegava e depois de um tempo o agente recebe a informação que a pessoa tinha perdido o avião e assim fomos direto pegar o carro e “descer a serra” (acho que é assim que se fala) precisamente a cidade de Santos, litoral paulista, viagem muito bonita, cerca de 1:30h, mas o cansaço era muito grande, tinha passado a noite em claro e viajar  mesmo que seja em poucas horas cansa.

Já dentro da cidade avistei o navio, mesmo de longe já se mostrava imponente e assustador pelo seu tamanho, na minha memória a única coisa que flutuava em água que tinha andado foi uma lancha pequena  em alguma praia que passei as férias e  a complexidade e tamanho da nave assustava. Desci do carro e o movimento de pessoas também assustava, era dia de desembarque e embarque de hospedes e sem falar dos crew’s  de 3 navios que estavam descendo para seus passeios, ficamos no aguardo de ser chamados  e lá conhecemos mais um cook  e assim completou os três cozinheiros que estavam na lista de embarque . Os outros dois cozinheiros eram formados em gastronomia e um deles já havia até trabalhado no ibero star, resort de  alto padrão e eu um pobre aprendiz de cozinha, cada vez mais aquilo me deixava nervoso e perguntas surgiam na minha cabeça como: o que eu to fazendo aqui ?, será que era o que quero pra minha vida ? , será que vou aguentar o trabalho que me esperava lá dentro? Mas olhei para frente e falei pra mim mesmo que tinha que ser forte e acreditar.