segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Entre Cebolas e alhos consegui meu espaço

 O trabalho para um 3rd cook numa praça na cozinha é bem reduzido. Descascar alho, cebola, cenoura e entre outros vegetais foi por muitos dias minha função na praça dos molhos, até ai tranquilidade e ate me dava sono de tamanha movimentação que fazia para descascar, mas minha grande dificuldade era o inglês, como era o pequeno nessa história era colocado pra pegar as panelas, chinoá e outros equipamentos para a cocção dos molhos, mas como tudo era falado em inglês o que parecia fácil se tornou  uma dor de cabeça momentâneo, tudo que o que o cappo queria ele fazia mimicas, ali começava os meus medos , porque ele era bem estouradinho e isso poderia ser meu fim, mas parecia que Deus iluminou a cabeça dele e o maluco não estourou comigo, mas encontramos no italiano uma forma de comunicação mais fácil e assim consegui trabalhar uma santa paz.

Comecei a criar confiança no cappo depois que percebi que ele gostava de mandar e ser obedecido, isso seria obvio, mas antes dele mandar  fazer algo aquilo previamente já estaria sido executado, como ele tinha uma preparação básica todos os dias de mirepoux, sal e pimenta do reino em grande quantidade e ossos para preparar os molhos e outras coisas  eu providenciava antes dele chegar e quando chegava ali já estava o que precisava nas mãos.Deixava de calças curtas e assim começou a me olhar de uma outra forma, comecei a mostrar que um brasileiro poderia utilizar uma coisa que muitos ali dentro não usavam, o cérebro.

Outro fato foi o bom humor, nunca fiz cerimônia para sorrir e ate quando ouvia piadinhas de brasileiro de estremo mal gosto, não fechava a cara para ele e os outros colegas e quando o executivo reclamava com ele por ter feito algo de errado, sempre ouvia a versão e concordava com ele, mesmo sabendo que estava errado e colocava-o pra cima fazendo sorrir e conseguia.

Entrada com lagosta para o comandante
Na linha de montagem de pratos  no jantar eu fui colocado na ultima posição, pegava pratos  super quentes  e colocava a primeira parte da guarnição e tinha que ser bem rápido porque a quantidade de pratos para ser liberados eram enormes, cerca de 1000 por sitting na minha linha. Era bem sofrido, prato quente, o colega do lado puxando o prato inacabado e o cappo gritando meu nome para ser mais rápido, mas com o passar do tempo foi criando agilidade  e melhorando na rapidez. No meio do segundo mês como a confiança estava tão boa que era só em olhar para a criatura eu já sabia o que ele queria dizer, tanto que me tirava da linha de montagem no meio da brata para ajuda-lo no rango do COMANDANTE. Ele no meio da cozinha gritava: - Julian ( isso mesmo, Italiano reduz os nomes das pessoas) Julian  vieni qua!!!! ai olhava pra ele e dizia que não podia sair da linha e o cara de pau perguntava quem era que estava mandando. Todos já me olhavam de uma outra maneira, uns com olhar maldoso e outros com admiração, pois fui um maluco que conseguiu conquistar o outro. fiz entradas, pastas, pratos principais e até lanchinhos para o comandante junto com ele. Expêriencia extra para a vida a bordo na cozinha.
Eu nas preparações para o jantar do comandante

Foi a partir dessa confiança que comecei a fazer o main course, o prato principal da estação e era sozinho, uma responsabilidade grande para um 3rd cook. Preparava cordeiro, pato, galinha d'angola, porco e entre outras preparações diariamente e isso ouvindo que estava lento, que deveria ser mais rápido e somente sorria e ironicamente pedia ajuda, mas isso foi bem temporário porque aprendi os macetes dados por ele mesmo e conseguia ser bem mais rápido.





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